Encerrando a série de postagens sobre as eleições presidenciais, estou postando neste blog, os mapas de distribuição geográfica do resultados das eleições presidenciais de 2018, que até o momento, foi o último pleito presidencial.
Antes de começarmos a falar das eleições de 2018, faremos uma contextualização do que ocorreu antes do pleito presidencial e dos desdobramentos que foram se desenhando, após os acontecimentos.
Embora o Brasil já estivesse inserido em um cenário de instabilidade política, o auge da desestabilização do governo Dilma Rousseff, começou ainda em 2014, logo após as eleições presidenciais. No dia 26 de outubro daquele ano, Dilma Rousseff (PT) havia derrotado o então senador mineiro Aécio Neves (PSDB), por uma pequena diferença de votos, o que foi a menor diferença percentual na história das eleições, desde a redemocratização, algo que não havia ocorrido nos pleitos anteriores.
Devido ao resultado, apoiadores de Aécio Neves passaram a contestar a vitória da presidente Dilma e com isso, começaram a endossar a campanha de impeachment da então presidente da república. Ao mesmo tempo, o candidato derrotado Aécio Neves (PSDB) passou a endossar a campanha de impeachment, que havia começado com os seus apoiadores e juntamente com outros nomes da oposição aos governos do PT, passaram a contestar o resultados das eleições de 2014, alegando a eleição foi fraudada e passou a difundir a teoria de que as urnas eletrônicas haviam sido fraudadas e que o pleito não havia tido uma disputa limpa.
Com todos esses ingredientes, a oposição passou a convocar protestos contra o governo Dilma e passou a falar do escândalo de corrupção, que havia sido deflagrado pela Operação Lava-Jato. Ao mesmo tempo, o PSDB entrou com um pedido de autoria, no Superior Tribunal Eleitoral (TSE), para avaliar uma possível adulteração dos dados eleitorais, que poderiam ter contribuído para a vitória de Dilma, além de terem entrado com o processo de cassação da chapa Dilma-Temer, por acusação de que a candidatura teria sido financiada com dinheiro público. Em 2017, o TSE rejeitou, por 4 votos a 3, a cassação da chapa Dilma-Temer, pois a maioria dos ministros que votaram a favor, entenderam que não houve abuso de poder econômico e com isso, tanto Dilma tanto Temer puderam preservar os seus direitos políticos [1]. Já em relação a auditoria da urna eletrônica, o PSDB não apontou evidências de adulteração dos dados eleitorais, e assim, não conseguiram provar que as urnas eletrônicas haviam sido fraudadas. Hoje em dia, alguns membros do partido admitiram que essa história foi levantada para gerar tumulto no ambiente político.
Apesar disso, Dilma Rousseff toma posse, no dia 1º de Janeiro de 2015, e durante discurso proferido no Congresso Nacional, a presidente afirmou que continuaria com combate as desigualdades sociais e que iria intensificar o combate a corrupção [2]. Para corrigir os problemas na parte econômica (que foi uma das áreas que puxava a instabilidade política), a então presidente nomeou o economista Joaquim Levy, para assumir o Ministério da Fazenda.
No dia 1º de Fevereiro de 2015, a Câmara dos Deputados, elegeu o então deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) como presidente da Casa, já no primeiro turno. Eduardo Cunha teve 267 votos, contra 136 de Arlindo Chinaglia (PT-SP); de 100 votos de Júlio Delgado (PSB-MG); e de 4 votos de Chico Alencar (PSOL-RJ), além de 2 votos brancos. Cunha prometeu que a Câmara dos Deputados agiria de forma "independente", que em tese, significaria que o Câmara não iria apoiar totalmente o governo federal [3].
Ao longo de 2015, algumas entidades como o Movimento Brasil Livre (MBL), Vem pra Rua e Revoltados Online, passaram a convocar protestos na rua contra o governo Dilma, e as bandeiras foram o combate a corrupção, o impeachment da Dilma, e até mesmo as pautas que são caras ao conservadorismo, como a Escola Sem Partido (projeto que prometia acabar com o suposto posicionamento político dos professores), a intervenção militar etc.
No mesmo ano, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, protocolou no Supremo Tribunal Federal, pedidos de abertura de inquérito para investigar políticos suspeitos de corrupção na Petrobrás. Boa parte dos envolvidos, eram políticos da base do governo Dilma, principalmente os que pertenciam aos quadros das legendas do Centrão. No dia 15 de abril, o então tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) João Vaccari Neto, foi preso pela Operação Lava-Jato, acusado de ter recebido propina no esquema de corrupção da Petrobrás. No dia 3 de agosto, o Ex-Ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu (PT), foi preso por suspeita de ter cometido crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
No dia 17 de Junho, o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG), fez uma delação premiada, em que acusa o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), então presidente da câmara dos deputados, de ter pedido propina de US$ 5 Milhões, para para viabilizar contratos na Petrobrás. Cunha negou as acusações, e afirmou que Delgado estava sendo obrigado a mentir [4]. No dia 20 de agosto, Eduardo Cunha foi denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR), pelo suposto envolvimento no escândalo de corrupção na Petrobrás
Um mês depois, no dia 17 de julho, Eduardo cunha rompe com o governo Dilma e passa a ser oposição. Cunha acusa o Planalto de ter tramado, em conjunto com a PGR, para incriminá-lo na Operação Lava-Jato [5].
A partir desse momento, as relações entre o Planalto e a Câmara começaram a ficar caóticas e a partir daquele momento, as coisas começaram a se encaminhar para um desfecho mais negativo, entre Dilma e Eduardo Cunha.
No dia 6 de agosto, o governo Dilma registra o maior taxa de rejeição do seu mandato, que foi de 71%. Fatores como as instabilidades política e econômica, e a atuação da Lava-Jato foram fatores que podem ter desencadeado esse alto índice de rejeição. O índice supera os 68% de rejeição do Governo Collor, em 1992.
No dia 7 de outubro, o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou ao Congresso Nacional, a reprovação das contas do governo federal em 2014, por suspeita de ter tido a prática das "pedaladas fiscais", onde as irregularidades somaram cerca de R$ 106 bilhões, sendo que R$ 40 bilhões foram em "pedaladas fiscais". O Executivo negou a existência de irregularidades e afirmou que as pedaladas já foram praticadas por outros governos [6].
Cerca de duas semanas depois, membros da oposição, por meio de juristas como Miguel Reale Jr e Hélio Bicudo, entregaram um pedido formal de impeachment de Dilma Rousseff, e foi incluso no relatório, a acusação de que o governo teria adotado as "pedaladas fiscais" [7].
Ao mesmo tempo, no dia 3 de novembro, a Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, instaurou um processo de investigação contra Eduardo Cunha, por quebra de decoro parlamentar, por ter declarado que não tinha contas bancárias na Suíça. No dia 02 de dezembro, a bancada de deputados federais do PT decide votar pela continuidade do processo de cassação do deputado Eduardo Cunha. E como retaliação, Cunha autoriza a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff.
O ano de 2016 começa bastante movimentado na política, principalmente, pelo fato do processo de impeachment ter avançado, como a criação das comissões e a definição do rito de impeachment, por parte do STF. No dia 04 de março de 2016, o Ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi alvo de coerção coercitiva da Polícia Federal, no âmbito da Operação Lava-Jato, onde Lula teve que prestar depoimento sobre a relação dele com as empreiteiras que foram denunciadas por corrupção na Petrobrás. O fato gerou protestos, por parte dos apoiadores do PT, principalmente pela forma em que a condução coercitiva havia sido aplicada.
No dia 16 de março, Dilma Rousseff nomeia Lula para assumir o cargo de ministro-chefe da Casa Civil. A medida gerou protestos por parte da oposição, que alegou que a nomeação serviria para evitar que o Lula continuasse sendo julgado na primeira instância, pois com a nomeação, o ex-presidente teria o direito ao foro privilegiado, o que faria que o processo fosse transferido ao STF. No dia 17 de março, um juiz de primeira instância concede uma liminar que suspendia a nomeação de Lula. Por fim, no dia 18, o Ministro do STF Gilmar Mendes, em uma decisão monocrática, suspende a nomeação de Lula para o cargo de Ministro-chefe da Casa Civil.
Ainda no dia 16 de março, o então juiz federal Sérgio Moro, divulgou uma série de gravações feitas pela Polícia Federal entre os dias 17/02 e 16/03. Entre esses gravações, estavam os áudios, em que havia um diálogo entre Lula e Dilma, que foram grampeados pelo Moro, que ao mesmo tempo, determinou o fim das escutas telefônicas do ex-presidente. A medida gerou repercussão na imprensa e críticas por parte de aliados do governo Dilma, alegando que o grampo telefônico foi realizado de forma ilegal.
No dia 28 de março, a Organização dos Advogados do Brasil (OAB) protocolou um novo pedido de impeachment de Dilma Rousseff. No dia seguinte, o PMDB anunciou o rompimento com o governo de Dilma, com isso, o Vice-Presidente Michel Temer passou a fazer parte da oposição ao governo.
No dia 17 de abril de 2016, os deputados se reuniram no plenário, para decidir sobre o prosseguimento do processo de impeachment. Por 367 votos a favor, 137 contra, com 7 abstenções e 2 deputados ausentes, a Câmara federal aprovou o prosseguimento do processo de impeachment de Dilma Rousseff [8]. Com isso, o processo foi para o Senado Federal, que no dia 12 de maio, fez a votação para que o processo fosse aberto. Por 55 votos a 22, os senadores decidiram pela abertura do processo de impeachment. Por causa do resultado da votação, Dilma Rousseff foi afastada do cargo de presidente, por 180 dias. Devido a essa situação, Michel Temer (PMDB) assume o mandato, de forma interina [9].
No primeiro ato como presidente em exercício, Michel Temer começou uma reforma ministerial, onde ele procurou acomodar a base aliada, além de partidos que eram da oposição ao governo Dilma, como o PSDB, o Democratas e o PPS. As nomeações geraram polêmica, principalmente, pelo fato de Temer ter nomeado políticos como Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), Romero Jucá (Planejamento) e Henrique Eduardo Alves (Turismo), que estavam sendo investigados por corrupção, além do fato de Temer ter privilegiado homens de maioria branca, não nomeando mulheres e pessoas negras, no primeiro momento.
Ao mesmo tempo, Temer extinguiu algumas pastas, como os ministérios da Cultura, das Comunicações, do Desenvolvimento agrário, etc. Devido a esses e outros atos, o presidente Temer começa a enfrentar criticas por parte da opinião pública e dos aliados de Dilma Rousseff, e por causa disso, os protestos ficaram conhecidos como "Fora Temer". Devido a isso, Temer se tornou um presidente impopular.
No dia 31 de agosto, o Senado Federal se reuniu novamente para decidir se Dilma Rousseff perderia o mandato. Os senadores decidiram por 61 votos a 20, que Dilma Rousseff iria sofrer o impeachment, por crime de responsabilidade fiscal. Com isso, Dilma perde o mandato de presidente da república e com isso, foi a segunda vez que um (a) presidente perdeu o mandato, por meio desse mecanismo. O primeiro, havia sido Fernando Collor de Mello, em 1992. E assim, Michel Temer assumiu de forma definitiva, a presidência do Brasil, e tomou posse, logo após o processo de votação. Apesar de Dilma ter perdido o mandato, os senadores haviam decido por 42 votos a 36, com 3 abstenções, de que Dilma ficaria inelegível, mas como o número de votos foi abaixo de 54 (quórum mínimo para aprovar a perda dos direitos políticos), Dilma não ficou inelegível, e devido a isso, ela ficou liberada para assumir funções públicas e se candidatar a cargos políticos.
Embora o impeachment tenha sido celebrado por boa parte dos aliados do Temer e pela imprensa, o processo é alvo de controvérsias até hoje, principalmente pelo contexto em que ocorreu a situação. Membros do PT e seus aliados, além do Ex-presidente Lula, alegam que Dilma Rousseff foi alvo de um golpe parlamentar, principalmente pela argumentação de que Dilma não havia cometido crime algum que pudesse justificar o processo de impeachment. Alguns aliados acreditam que Dilma perdeu o mandato, por não ter aceitado as negociações com o Centrão, pois o bloco queria mais cargos nos ministérios, em troca de apoio político, mas Dilma não aceitava dialogar com as legendas que fazem parte do Centrão, por acreditar que a negociação era a abertura para a prática da corrupção.
No dia 12 de setembro, a Câmara se reuniu para votar a cassação de Eduardo Cunha, que já havia deixado a presidência da Casa. Por 450 votos a 10, os deputados decidiram pela cassação de Eduardo Cunha, que perdeu o mandato de deputado federal e ficou inelegível até o ano de 2027. Cunha alegou que foi alvo de "vingança política" [11]. No dia 19 de outubro, Eduardo Cunha foi preso pela Polícia Federal, acusado de ter participado dos escândalos de corrupção na Petrobrás.
Em dezembro de 2016, Senado Federal aprovou PEC do "Teto de Gastos", que aprovou o congelamento dos gastos públicos por 20 anos, em relação aos gastos primários. O governo alegou que a medida era necessária, para conter o rombo nas contas públicas. Mas a oposição criticou a medida, alegando que o congelamento dos gastos, poderia comprometer os investimentos em áreas que são essenciais para o crescimento do país, como a educação e a saúde.
Em 2017, estourou um dos primeiros escândalos que abalou o governo Temer. No dia 17 de maio, o jornal O Globo fez uma reportagem, na qual, foi divulgada uma gravação telefônica em que Joesley Batista, um dos donos da frigorifica JBS, teria pago propina para silenciar o ex-deputado Eduardo Cunha, e Temer teria supostamente endossado o suposto pagamento de propina [12]. O escândalo acabou tendo uma forte repercussão na opinião pública e no ambiente político. No dia 26 de junho, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot denunciou Temer por corrupção passiva. Mas em outubro daquele ano, a Câmara rejeitou o processo de indiciamento do então presidente e com isso, salvou o seu mandato.
Em julho do mesmo ano, foi aprovado uma PEC da reforma trabalhista, que alterou a legislação da Consolidação de Leis Trabalhistas (CLT). A medida dividiu opiniões, pois uma parte de economistas e empresários concordaram com a nova lei, principalmente porque facilitaria as relações de trabalho e das obrigações trabalhistas, mas uma parte foi contra, principalmente os sindicalistas e políticos da oposição, por terem apontado que a medida, causaria uma flexibilização nos direitos trabalhistas.
No mesmo mês, em Curitiba, o Ex-presidente Lula foi julgado em primeira instância, no processo que envolvia a compra de um triplex, na cidade de Guarujá-SP. Ao final do julgamento, Lula foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Foi a primeira vez que um ex-presidente da república havia sido condenado por um crime comum. Por ter sido uma condenação em primeira instância, Lula recorreu em liberdade [13]. O ex-presidente já tinha sido denunciado por corrupção em casos que envolveram o Instituto Lula e na aquisição de um sítio, no município de Atibaia-SP.
No dia 24 de janeiro de 2018, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), julgou um recurso da defesa do ex-presidente Lula, pedindo a absolvição do político petista. Por unanimidade, os três desembargadores decidiram por manter a condenação do ex-presidente e elevou a pena para 12 anos e 1 mês de prisão. Com isso, Lula já corria o risco de ter a sua prisão decretada pela justiça, embora houvesse a possibilidade da reversão do julgamento no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF) [14].
No dia 5 de abril, o juiz federal Sérgio Moro, emitiu o mandado de prisão contra Lula, prevendo o cumprimento da pena, pelo crime de corrupção na aquisição de um triplex, em Guarujá-SP. Isso só foi possível, porque o STF, em decisão no colegiado, negou um pedido de habeas corpus ao Lula. Dois dias depois, o ex-presidente se entrega, e é detido pela Polícia Federal, em São Bernardo do Campo-SP, e de lá, foi transferido para uma carceragem da PF, em Curitiba-PR. Lula passou 580 dias na prisão, ficando na carceragem da PF, até o dia 9 de novembro de 2019, quando a defesa conseguiu um habeas corpus, que determinou a soltura do ex-presidente, baseado na mudança de interpretação no STF, que decidiu, em uma votação no plenário, por derrubar a possibilidade de prisão para condenados em 2ª instância. Em 2021, os processos contra o ex-presidente, foram anulados pelo STF, em decorrência da suspeição de Sérgio Moro, por causa da sua parcialidade nos julgamentos da Operação Lava-Jato.
Com isso, as eleições de 2018 começaram com o seguinte cenário: devido ao contexto político daquele período, o antipetismo começou a ficar forte no cenário da política, além da própria demonização da atividade política, que foi provocada pelo contexto daquele tempo.
Ao mesmo tempo, crescia a onda do conservadorismo no Brasil, pois devido a insatisfação da classe média com a economia, foram surgindo movimentos que passaram a difundir o pensamento do conservadorismo na sociedade. Embora o Brasil tem a suas raízes no conservadorismo, devido ao contexto histórico, o movimento conservador passou a emergir com mais força no cenário político e ao mesmo tempo, passou a abarcar o segmento religioso e as pautas que lhes são caras.
Pautas como a descriminalização do aborto, a agenda feminista, a pauta LGBTQIA+ e as ações antirracismo, passaram a ser bastante questionadas e atacadas pelo segmento religioso e conservador. Eles alegavam que as pautas, como do feminismo e dos LGBTs, causariam a destruição da "família tradicional", que é a composição padrão que a sociedade se habituou a viver. Ao mesmo tempo, houve a propagação de uma narrativa, que divulgava o risco do Brasil se tornar um país comunista, e o discurso era de que, se não tirassem o PT do poder, o país "se tornaria uma Venezuela" (país governado pela esquerda, mas que sofre questionamentos, por suspeitas de aplicar práticas autoritárias).
Com isso, surgiu a figura do então deputado federal Jair Bolsonaro. Defensor da ditadura militar, Bolsonaro passou a prometer que faria a intervenção militar, acenou para a possibilidade de criminalizar a prática do aborto no Brasil, de flexibilizar o acesso a armas de fogo, de defender o fim da CLT e de promover a agenda liberal na economia. Ao mesmo tempo, passou a propagar a ideia de que não tinha envolvimento com a política e que iria revolucionar o segmento político. O que chama atenção, é que Bolsonaro passou 28 anos como deputado federal e cerca de 30 anos na vida pública, ou seja, podemos chegar a conclusão de que o Bolsonaro não tinha os requisitos para fazer uma "nova política".
No dia 22 de maio de 2018, Michel Temer confirmou que não iria se candidatar a um novo mandato, e com isso, se tornou o primeiro presidente da república a não se candidatar a uma reeleição, desde de quando foi aprovada a possibilidade de uma tentativa de um segundo mandato consecutivo, em 1997.
No fim de 2018, o governo Temer teve um índice de rejeição de 74% e de aprovação de 5%, sendo considerado o governo mais impopular, desde a redemocratização. Fatores como a inflação alta, o índice de desemprego alto e o envolvimento em escândalos de corrupção, arranharam a imagem de Michel Temer.
Com tudo isso, Temer passou a apoiar a pré-candidatura de Henrique Meirelles (MDB), Ex-Ministro da Fazenda de seu governo. No dia 2 de agosto, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), lançou a candidatura de Meirelles a presidência da república, com o ex-governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (MDB), sendo escolhido para ser o candidato a vice-presidente, assim, se configurando uma chapa "puro sangue".
Antes, no dia 20 de julho, o Partido Democrático Trabalhista (PDT), lançou a candidatura de Ciro Gomes, que se candidatava ao cargo de presidente, pela terceira vez e voltou a concorrer a presidência da república, depois de 16 anos, sendo que a última vez em que havia se candidatado ao cargo, havia sido em 2002. Ciro escolheu a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), como sua candidata a vice-presidência.
No dia 22 de julho, o Partido Social Liberal (PSL), lançou a candidatura do então deputado federal, Jair Bolsonaro, que escolheu o General Hamilton Mourão (PRTB), como o seu candidato a vice-presidente, e com isso, a chapa passou a ser composta por militares, já que Bolsonaro é um capitão da reserva do Exercito.
No dia 4 de agosto, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) lançou a candidatura do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que se candidatava pela segunda vez ao cargo de presidente. A sua candidatura teve o apoio dos partidos do "Centrão", o que deu direito um "tempo de TV" maior, em comparação a outros candidatos. Alckmin escolheu a então senadora Ana Amélia (PP-RS), como sua candidata a vice-presidente.
No mesmo dia, o Partido dos Trabalhadores (PT) lançou a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para a presidência da república. Seria a sexta vez que Lula se candidataria ao cargo de presidente, sendo que ele poderia tentar um terceiro mandato na presidência do país. A coligação escolheu o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), como o seu candidato a vice-presidente. Porém, no dia 1º de setembro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por 6 votos a 1, negou o registro de candidatura de Lula, com a argumentação de que ex-presidente foi barrado pela Lei do Ficha Limpa, por ter sido condenado em segunda instância. Com isso, no dia 11 do mesmo mês, a coligação lançou o nome de Fernando Haddad, como o cabeça de chapa, e escolheu a então deputada estadual pelo Rio Grande do Sul, Manuela D'ávila (PCdoB), como candidata a vice-presidente.
As eleições presidenciais tiveram 13 candidaturas, sendo a segunda eleição que teve o maior número de candidatos, perdendo somente para as eleições presidenciais de 1989, que teve 22 candidaturas, naquele pleito.
Os principais candidatos foram: Jair Bolsonaro (PSL), então deputado federal pelo estado do Rio do Janeiro e capitão da reserva do Exercito; Fernando Haddad (PT), ex-ministro da educação nos governos Lula e Dilma e ex-prefeito de São Paulo; Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Ceará, ex-deputado federal, ex-ministro da Fazenda no governo Itamar Franco e ex-ministro da Integração Nacional no governo Lula, e que voltou a se candidatar ao cargo de presidente, depois 16 anos; Geraldo Alckmin (PSDB), ex-governador de São Paulo por 4 mandatos e que se candidatava pela segunda vez ao cargo de presidente, sendo que a primeira tentativa, havia sido em 2006; Henrique Meirelles (MDB), ex-presidente do Banco Central no governo Lula e ex-ministro da Fazenda no governo Temer; Alvaro Dias (Podemos), Senador pelo estado do Paraná; Marina Silva (Rede Sustentabilidade), ex-senadora pelo estado do Acre, ex-ministra do Meio Ambiente no governo Lula e que se candidatava pela terceira vez consecutiva; Cabo Daciolo (Patriota), então deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro, e ex-militar do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ); e Guilherme Boulos (PSOL), líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto de São Paulo (MTST-SP).
As eleições começaram com o surgimento de algumas figuras, que começaram a se destacar nos debates. Primeiramente, surgiu a figura do Cabo Daciolo, que veio com um discurso, que procurou atrair o eleitorado protestante, principalmente com falas que citavam o nome de Deus e dos versículos da bíblia, e que abarcava o discurso nacionalista. Essa postura, passou a atrair o eleitorado religioso, que não votaria em Jair Bolsonaro.
Outra figura que surgiu nos debates, foi o líder o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, Guilherme Boulos (PSOL), que passou a criticar os candidatos que tinham apoiado o governo Temer em algumas pautas que o governo ganhou no Congresso, inclusive utilizou a expressão "50 tons de Temer", ao se referir a candidatos que em algum momento, apoiaram os projetos do então presidente Temer.
No dia 6 de setembro, Jair Bolsonaro sofre um atentado, na cidade de Juiz de Fora-MG. Ao ser carregado por apoiadores, Bolsonaro levou uma facada na região do abdômen, sendo levado a um hospital da região. O autor da facada foi preso, por ter cometido a tentativa de homicídio. Bolsonaro fez uma cirurgia de emergência, para estancar a hemorragia e passou a usar uma bolsa de colostomia, para a recuperação da região, que havia sido atingida pela facada. Em 2021, o Jornalista Joaquim de Carvalho, do site Brasil 247, lançou um documentário, que levantou a suspeita de que a facada foi uma espécie de "auto-atentado", para promover a candidatura de Bolsonaro. A versão passou a ser difundida, por membros da oposição ao atual governo.
Com isso, Bolsonaro só compareceu a dois debates, na Band e na Redetv, antes do atentado. Após o ataque sofrido em Juiz de Fora-MG, Bolsonaro não compareceu aos demais debates, por recomendação dos médicos, para preservar a sua saúde.
Com a possibilidade real de vitória do Bolsonaro, movimentos sociais e sindicatos passaram a fazer protestos contra o candidato Bolsonaro. O movimento "Ele não" teve uma forte adesão desses movimentos e entidades, que apontavam um possível retrocesso, em caso de vitória de Jair Bolsonaro.
No primeiro turno, o candidato Bolsonaro (PSL) terminou na frente com 46,03% dos votos; o candidato Fernando Haddad (PT) ficou em segundo lugar com 29,28% dos votos; Ciro Gomes (PDT) ficou em terceiro lugar, com 12,47% dos votos; e Geraldo Alckmin (PSDB), ficou com a quarta colocação, com 4,76% dos votos. Bolsonaro venceu em 16 estados e no Distrito Federal; Haddad venceu em 9 estados e Ciro Gomes venceu apenas no Ceará (algo que havia ocorrido nas duas eleições anteriores que disputou, nos anos de 1998 e 2002). Bolsonaro bateu o recorde de votação em uma disputa de primeiro turno das eleições presidenciais, com cerca de 49 milhões de votos, superando o recorde que pertencia a Dilma Rousseff, que tinha recebido cerca de 47 milhões de votos, em 2010. As imagens abaixo, mostram o mapa de distribuição geográfica do resultado do primeiro turno e a tabela com o resultado da votação.
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Com isso, ocorreram algumas surpresas com o resultado eleitoral. A primeira, foi o resultado surpreendente dos candidatos João Amoêdo (Novo) e Cabo Daciolo (Patriota), que ficaram respectivamente, na quinta e sexta posição, superando nomes como Marina Silva (REDE), Henrique Meirelles (MDB) e Alvaro Dias (Podemos), que tiveram um desempenho abaixo do esperado, principalmente pela bagagem que eles tem na política.
Nessa eleição, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB), teve um desempenho pífio na votação, ficando apenas na quarta colocação. Foi o pior desempenho do PSDB em uma eleição presidencial, desde 1989, e com isso, o partido ficou de fora de uma disputa de segundo turno, pela primeira vez, desde 2002, ano em que havia estreado em disputas de 2º turno. A única vez que o partido havia ficado de fora de um 2º turno, havia sido em 1989, quando o candidato Mario Covas havia ficado na 4ª colocação. O partido havia ganho as eleições de 1994 e 1998, com o Fernando Henrique Cardoso; e chegou ao segundo entre 2002 e 2014, quando os candidatos José Serra (2002 e 2010), Geraldo Alckmin (2006) e Aécio Neves (2014) haviam levado o PSDB a disputas de 2º turno.
Com isso, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) passaram para o segundo turno, e com o resultado da apuração, o PT se tornou o único partido a ter disputado o 2º turno em todas as eleições que chegaram a essa fase, com isso, o partido nunca ficou fora de uma disputa de 2º turno, e nas eleições que tiveram somente o 1º turno, o partido ficou na 2ª colocação, o que mostra que o PT, sempre foi uma legenda que costuma entrar com força nas eleições presidenciais.
Jair Bolsonaro buscou focar na campanha pela internet, principalmente porque o candidato não tinha muitos recursos do fundo partidário, além de poucos segundos de tempo de TV, na propaganda eleitoral. O uso das redes sociais na campanha de Bolsonaro, ajudou a impulsionar a sua candidatura.
Já Fernando Haddad, surpreendeu por ter passado para o segundo turno. Primeiro, pelo fato da sua candidatura ter sido oficializada no dia 11 de setembro, ou seja, já faltava menos de um mês para a votação do 1º turno. E segundo, por ter crescido durante a campanha e por ter tomado a segunda colocação de Ciro Gomes (PDT) nas pesquisas eleitorais.
Essa eleição não teve nenhum debate presidencial, na disputa 2º turno. Foi a primeira vez, na história da redemocratização, que não houveram debates eleitorais em uma disputa de 2º turno. O motivo de não ter tido os debates, foi por decisão de Jair Bolsonaro, que optou por não comparecer aos debates eleitorais, por alegar que não teria condições físicas de participar de um debate, embora clinicamente tivesse sido liberado pelos médicos.
No segundo Turno, Jair Bolsonaro venceu com 55,13%, derrotando Fernando Haddad, que teve 44,87% dos votos. Bolsonaro venceu em 15 estados e no Distrito Federal (vencendo em todos os estados de 3 das 5 regiões do Brasil), enquanto Haddad venceu em 11 Estados (venceu em todos os estados da região Nordeste, e virou no estado do Tocantins, onde havia perdido no primeiro turno). Apesar da derrota, o resultado do Haddad no Nordeste, confirmou uma tendência, que se repete desde 2006, que é o fato do PT ganhar em todos os estados da região, em uma disputa de 2º turno. Nas imagens abaixo, mostram o mapa de distribuição geográfica do resultado do segundo turno e a tabela com o resultado da votação.
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Com o resultado, Jair Bolsonaro se tornou o primeiro membro das Forças Armadas, desde o fim da ditadura miliar, a ser eleito presidente do Brasil. A ultima vez que o Brasil teve um militar à frente do cargo de presidente da república, foi o General João Baptista Figueiredo, que governou o país entre 1979 a 1985 sendo o último presidente do período que em ocorreu a ditadura militar, que havia começado em 1964, e teve o seu término, no ano de 1985, período em que houve a redemocratização do Brasil.
Fatores como o discurso da antipolítica, a incorporação das pautas do conservadorismo, o antipetismo e as campanhas nas redes sociais, foram cruciais para que Jair Bolsonaro levasse a eleição contra o Haddad.
Essa eleição foi marcada pela tendência de escolha de candidatos que não tinham experiência na política partidária. Nesse contexto, alguns candidatos, como Romeu Zema (Novo), em Minas Gerais; Wilson Witzel (PSC), no Rio de Janeiro; Comandante Moisés (PSL), em Santa Catarina, se elegeram governadores nos respectivos estados, que foram citados acima. Algo que é comum a todos eles, foi o fato de terem vindo de carreiras que não eram da política partidária, como é o caso do Zema, que é empresário; do Witzel, que foi juiz federal por 20 anos; e do Comandante Moisés, que é militar do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina. E outro fator que podem ter elegido eles, foi o fato desses três candidatos terem declarado apoio ao Bolsonaro, que acabou sendo uma espécie de puxador de votos para as respectivas candidaturas.
Ao mesmo tempo, a eleição causou mudanças na composição da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Na Câmara, houve uma grande renovação, sendo a maior nos últimos 20 anos. Dos 513 deputados, 243 haviam sido eleitos para um primeiro mandato, o que representa cerca de 47% de novos deputados [16]. Já no Senado Federal, dos 54 senadores que foram eleitos, apenas 8 conseguiram se reeleger. Nomes como Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Cristovam Buarque (PPS-DF), Edison Lobão (MDB-MA), Magno Malta (PR-ES), entre outros, são alguns dos exemplos de senadores, que tentaram a reeleição e não tiveram sucesso no pleito [17].
Apesar da vitória de Jair Bolsonaro, a sua candidatura é alvo de quatro processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por suspeita de irregularidades na campanha de 2018. A acusação é de que a chapa Bolsonaro-Mourão teria utilizado as redes sociais, para fazer disparos em massa de fake news [18]. Caso a maioria dos ministros do TSE, votem pela cassação da chapa, a candidatura será cassada, por abuso de poder econômico e por uso indevido dos meios de comunicação, e existe a possibilidade, do Bolsonaro ficar inelegível por 8 anos, que poderia inviabilizar a sua candidatura a reeleição em 2022.
Assim, Bolsonaro assumiu o mandato em 2019, e tem previsão de termino de mandato em 2022, podendo se candidatar a reeleição no próximo ano.
Nos parágrafos abaixo, estão disponíveis os links em que foram feitos as pesquisas das notícias que serviram de fundamentação para os textos e que estão marcados como nota de rodapé e a imagem abaixo, com os demais links em que foram feito as pesquisas.
[1]. https://g1.globo.com/politica/noticia/por-4-votos-a-3-tse-rejeita-cassacao-da-chapa-dilma-temer-na-eleicao-de-2014.ghtml;
[2]. http://g1.globo.com/politica/posse-de-dilma/segundo-mandato/os-discursos-das-posses.html;
[3]. http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/02/eduardo-cunha-e-eleito-presidente-da-camara-dos-deputados.html;
[4]. http://g1.globo.com/politica/operacao-lava-jato/noticia/2015/07/delator-relata-pedido-de-propina-de-cunha-que-o-desafia-provar.html;
[5]. http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/07/eduardo-cunha-anuncia-rompimento-politico-com-o-governo-dilma.html;
[6]. http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/10/tcu-recomenda-ao-congresso-reprovar-contas-do-governo-de-2014.html;
[7]. http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/10/juristas-e-oposicao-entregam-novo-pedido-de-impeachment-de-dilma.html;
[8]. http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/04/camara-aprova-prosseguimento-do-processo-de-impeachment-no-senado.html;
[9]. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/05/12/senado-abre-processo-de-impeachment-contra-dilma-rousseff;
[10]. http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/08/senado-aprova-impeachment-dilma-perde-mandato-e-temer-assume.html;
[11]. http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/09/camara-cassa-mandato-de-eduardo-cunha-por-450-votos-10.html;
[12]. https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/05/17/dono-da-jbs-afirma-que-temer-deu-aval-a-compra-de-silencio-de-cunha-diz-o-globo.htm;
[13]. https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/lula-e-condenado-na-lava-jato-no-caso-do-triplex.ghtml;
[14]. https://g1.globo.com/politica/noticia/julgamento-recurso-de-lula-no-trf-4-decisao-desembargadores-da-8-turma.ghtml;
[15]. https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/lula-se-entrega-a-pf-para-cumprir-pena-por-corrupcao-e-lavagem-de-dinheiro.ghtml?_ga=2.69960784.1105593569.1615205471-bc9ebea5-270b-d461-0ca2-19043ea315ec;
[16]. https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/10/09/camara-dos-deputados-passa-pela-maior-mudanca-dos-ultimos-20-anos.ghtml;
[17]. https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/eleicao-em-numeros/noticia/2018/10/08/3-em-cada-4-senadores-que-tentaram-novo-mandato-perderam-a-eleicao-em-2018.ghtml;
[18]. https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/tse-quer-acesso-a-novas-informacoes-que-podem-resultar-na-cassacao-da-chapa-bolsonaro-mourao/;